quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Oscarito




(Málaga, na Espanha em 16/08/1906 - Rio de Janeiro em 04/08/1970).

Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepcion Teresa Dias nasceu na Espanha. Poderia ser marroquino se viesse ao mundo dois diante antes - a família era de circo e estava em excursão no norte da África -, mas se considerava brasileiro. "Vim para cá com um ano de idade e sofri mais do que sovaco de aleijado. Podia ter nascido na China ou no pólo norte, mas sou brasileiro puro na batata", disse ele, ao conseguir naturalizar-se brasileiro, em 1949. O pai era alemão e a mãe, portuguesa. Tinha tios franceses, ingleses, espanhóis, italianos e dinamarqueses, com uma tradição de 400 anos de picadeiro.

Oscarito debutou aos cinco anos no circo, vestido de índio numa adaptação de O Guarani, de José de Alencar. Exímio violinista (chegou a tocar em salas de projeção na época do cinema mudo), foi palhaço, trapezista, acrobata e até Poncio Pilatos na semana santa. Como galã, protegeu castas meninas de condes malvados em dramalhões sob a lona que faziam a platéia arfar o peito num tempo em que não havia novela de televisão.

Em 1932, Alfredo Breda, barbeiro de profissão e teatrólogo da praça Tiradentes, no Rio, convidou-o a satirizar o presidente Getúlio Vargas em Calma, Gegê. Era a época do teatro rebolado em que a sátira política era combinada com as exuberantes pernas das vedetes. A mistura era infalível. Desde a estréia no cinema, em Noites cariocas, de 1935, Oscarito ligou-se ao parceiro inseparável Grande Otelo, com quem faria dupla em 34 chanchadas do estúdio da Atlântida entre 1944 e 1962.

Oscarito era um gênio da comédia e conhecia a mecânica do riso. Certa vez, pediu ao diretor Carlos Manga que alterasse a montagem de um filme. Entre uma piada e outra, para dar tempo ao público de recuperar-se, havia seis closes do rosto de figurantes. Oscarito achou pouco e pediu nove closes. Era o intervalo exato, constatou Manga quando o filme estreou. Nos anos 50, fazia três filmes por ano, incluindo gozações com sucessos de Hollywood, como, Matar ou correr, de Manga, paródia do bangue-bangue Matar ou morrer, de Fred Zinnemann. Colégio de brotos (1956) foi visto por 250 mil espectadores na primeira semana de exibição. "Esse homem é minha mina de ouro", dizia o dono da Atlântida, Luís Severiano Ribeiro.

Após vê-lo imitando Rita Hayworth no clássico papel de Gilda, o humorista americano Bob Hope convidou Oscarito para filmar nos Estados Unidos, mas ele recusou - com medo do fracasso. "Não se dava conta da importância que tinha. Vivia com cinco contos de réis mensais, salário modestíssimo para a estrela que era. Eu próprio ganhei três contos de réis por Carnaval no fogo, de 1949, e não deu para viver um mês", relata o ator José Lewgoy. "Temente a Deus e ao imposto de renda", como dizia, não bebia e só passou a fumar após os 40 anos (pegou o vício ao representar um fumante inveterado).

Casado com Margot Louro, de belíssimos olhos azuis e também de família circense, teve dois filhos. Certo dia, após abandonar a carreira artística, enquanto a família arrumava as malas para passar um fim de semana no sítio em Ibicuí (RJ), Oscarito tentou repetir na sala os passos de malandro que o haviam consagrado. Terminavam sempre com um pulinho com os dois pés para trás.

"Acho que estou ficando velho e gordo", disse à mulher. Minutos depois, as pernas começaram a formigar e endurecer, antes de ele desmaiar. Um derrame cerebral o deixou em coma e o matou dez dias depois. Ao pressentir o ocaso, ele havia decidido refugiar-se no sítio. "Qualquer dia eles vão me demolir como um prédio velho. Vou cuidar das galinhas e dos repolhos." Mas não perdeu a chance de fazer piada: "Como sabem, repolho é uma rosa que engordou e ficou verde de raiva."

Texto: ISTOÉ - O Brasileiro do Século.

Principais filmes:

Alô Alô Carnaval (1936), Bombonzinho (1937), Banana da Terra (1939), Está Tudo Aí (1939), Céu Azul (1941), Vinte e Quatro Horas de Sonho (1941), O Dia é Nosso (1941), Tristezas não pagam Dívidas (1944), Gente Honesta (1945), Não Adianta Chorar (1945), Este Mundo é um Pandeiro (1946), Fantasma por Acaso (1946), Asas do Brasil (1947), É Com Esse que Eu Vou (1948), Falta Alguém no Manicômio (1948), O Caçula do Barulho (1949), Carnaval no Fogo (1949), E O Mundo se Diverte (1949), Aí vem o Barão (1951), Aviso aos Navegantes (1951), É Fogo na Roupa (1952), Três Vagabundos (1952), Barnabé, tu és Meu (1952), Carnaval Atlântida (1952), A Dupla do Barulho (1953), Nem Sansão, Nem Dalila (1954), Matar ou Correr (1954), Guerra ao Samba (1955), O Golpe (1955), Colégio de Brotos (1956), Vamos com Calma (1956), Papai Fanfarrão (1956), De Vento em Popa (1957), Treze Cadeiras (1957), Esse Milhão é Meu (1958), O Homem do Sputnik (1959), Cupim (1959), Os Dois Ladrões (1960), Duas Histórias (Cacareco vem aí) (1960), Pintando o Sete (1961), Entre Mulheres e Espiões (1962), Os Apavorados (1962), Crônica da Cidade Amada (1965), Jovens pra Frente (1968).


Fontes: Site Adoro Cinema Brasileiro, IMDb.

Um comentário:

  1. Gostaria de ter copia do filme Carnaval no fogo em DVD. Quero daber quanto custa? e se está em boas condições de imagem e som? Meu site é: williamsalbuquerque@bol.com.br Espero resposta. Obrigado.

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