sábado, 2 de dezembro de 2006

Grande Otelo




(Uberlândia, Minas Gerais em 18/10/1915 - Paris, 26/11/1993).

Grande Otelo nasceu Sebastião Bernardo Silva, mas trocou seu nome de batismo para Sebastião Bernardes de Souza Prata. O Bernardes veio em homenagem ao ex-presidente Artur Bernardes. O Souza é por causa do sobrenome da mãe. E o Prata foi uma deferência à família dos patrões do pai. A informação está na biografia do ator, "Grande Otelo, uma biografia", escrita pelo jornalista Sérgio Cabral.

Ele só tinha 1m50 de altura, mas o cinema brasileiro nunca conheceu um tipo popular maior que Grande Otelo. Sebastião Bernardes de Souza Prata estreou como ator no picadeiro, quando o circo da cidade precisava de um garoto para contracenar com o palhaço.

O pai morreu esfaqueado e, quando a mãe alcoólatra se casou outra vez, o menino decidiu que era hora de partir. Aproveitou a visita de uma companhia de teatro mambembe à cidade e foi embora com a trupe.

O negrinho fujão que sabia cantar e fazer graça se aventurou no Rio de Janeiro e em São Paulo, em busca de sua verdadeira vocação: ser ator. Nos anos 20, integrou a Companhia Negra de Revistas, cujo maestro era Pixinguinha.

Em 1932, entrou para a Companhia Jardel Jércolis (pai do ator Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista). Foi nessa época que ganhou o apelido que o consagrou. Inicialmente era chamado pelos colegas de Pequeno Otelo, por motivos óbvios, mas ele próprio corrigiu o apelido para The Great Otelo e, mais tarde, o abrasileirou.

Grande Otelo apareceu pela primeira vez na tela em Noites Cariocas, de 1935, ao qual se seguiram Futebol e Família (1939) e Laranja da China (1940), que lhe deram fama suficiente para ser chamado para trabalhar no primeiro filme produzido pela Atlântida: Moleque Tião, de 1943.

Comediante genial, fez dupla com Oscarito em dezenas de filmes na época de ouro das chanchadas e comédias da Praça Tiradentes e do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Foi quando o sucesso se firmou. Juntos, ele e Oscarito participaram de mais de dez chanchadas, como Carnaval no Fogo, Aviso aos Navegantes e Matar ou Correr.

Durante a filmagem de Carnaval no Fogo, uma tragédia abalou a vida do ator: sua mulher matou o filho do casal, de seis anos, e depois se suicidou. Sem saber de nada, Otelo filmava o quadro em que fazia o papel de Julieta, e Oscarito, o de Romeu. Abalado, só conseguiu assistir à cena 30 anos depois.

Otelo também era um grande ator dramático. Nos anos 50 e 60, foi adotado pelo Cinema Novo: trabalhou em Rio Zona Norte (1957) e foi chamado por Joaquim Pedro de Andrade para encarnar Macunaíma (1969). Sua atuação na pele do anti-herói brasileiro foi tão memorável, que ele jurava ter ajudado Mário de Andrade a construir a personagem.

Nos mais de cem filmes em que atuou, Grande Otelo trabalhou com grandes diretores, nacionais e internacionais. Em 1942, participou de It’s all True, filme realizado por Orson Welles no Brasil, e, 40 anos depois, em Fitzcarraldo (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva do Peru.

Em 1993, um ataque do coração tirou a vida do pequeno Grande Otelo. Ele estava a caminho de Paris, para uma homenagem que receberia no Festival de Nantes.

Em dezembro de 2007, Grande Otelo recebe uma série de homenagens. As homenagens vêm em forma de livro, de site, de documentário e de exposição. O projeto, a cargo da Sarau Agência de Cultura Brasileira, inclui ainda a transferência do acervo do ator para a Funarte. O material estava no apartamento de um amigo da família, na Tijuca, já que os quatro filhos não tinham onde deixá-lo. Foi levado de lá para a Sarau, onde passou por um processo de recuperação e de catalogação. E, agora, passa a ser cuidado pela Funarte.

O livro "Grande Otelo, uma biografia" traz informações curiosas. O ano de nascimento do ator era inventado. Ele dizia que tinha nascido em 1915, mas a data verdadeira, conta Sérgio Cabral, era 1917. Além disso, na verdade, ele não fugiu com um circo, e sim foi adotado por uma família de comediantes vinda de São Paulo.


Vídeos relacionados:

Filme "Rio Zona Norte" - 1957

http://inmemorian.multiply.com/video/item/156


Cantando "Boneca de Piche" com Betty Faria

http://inmemorian.multiply.com/video/item/157

"Macunaíma" - 1969

http://inmemorian.multiply.com/video/item/158

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