sábado, 18 de novembro de 2006

Raul Cortez




(Santo Amaro, São Paulo em 28/08/1932 - São Paulo em 18/07/2006).

O ator Raul Christiano Machado Cortez, conhecido como Raul Cortez, nasceu em Santo Amaro quando esse bairro paulistano ainda era um município, e já tivera como prefeitos seu pai e seu tio. Sua rebeldia se manifestaria muito cedo. Na adolescência, arrumou um emprego para ficar independente do pai.

De família rica, começou por contrariar os pais para ser ator.

Estudante de Direito passou a freqüentar o famoso Nick Bar, vizinho ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Ali conheceu Ítalo Rossi que o levou ao Teatro Paulista do Estudante, de Oduvaldo Viana Filho (1936-1974) e Gianfrancesco Guarnieri, onde estreou, sob direção de Ítalo, em "O Impetuoso Capitão Tick", em 1955.

Pouco depois, faria um teste para o TBC e enfrentaria seu primeiro fiasco, "A história é engraçada". Por sua bela voz, o então rapaz espigado - 1,81 metros de altura - seria escolhido para um efeito ‘sonoro’ especial em parceria com Cleyde Yáconis. Nos ensaios, tudo bem. Mas no dia da estréia ficou mudo de nervoso e Cleyde falou sozinha. Por conta disso, ficaria quatro anos fazendo praticamente figuração no TBC. Finalmente saiu da ‘geladeira’ e seu talento já começou a brilhar ao substituir Leonardo Villar no papel de Biff, em "A Morte do Caixeiro Viajante".

Nesse período, atuou sob direção de Antunes no Pequeno Teatro de Comédia em "O Diário de Anne Frank". Na Cia. Cacilda Becker viajou para a Europa com uma repertório bastante eclético, como era comum na época, que ia desde "Maria Stuart", de Schiller, passando por "Santa Marta Fabril S. A." de Abílio Pereira de Almeida até "A Compadecida" de Suassuna. Sob direção de Antunes Filho atuou em "Yerma", de Lorca e sob a direção de Ziembinski em "Boca de Ouro", de Nélson Rodrigues. Em 1963 já ganhava o APCA de ator coadjuvante por sua atuação em "Os Pequenos Burgueses", sob direção de Zé Celso. “Foi uma montagem inédita no teatro brasileiro”, diria Cortez anos depois.

Fez uma ‘incompreendida’ atuação/performance em 1969, encarnando um travesti em "Os Monstros", sob direção de Denoir de Oliveira. Em 1970 ousou com o primeiro nu masculino no teatro brasileiro na famosa montagem de "O Balcão", dirigida por Victor García. Atuou sob direção de Zé Celso Martinez no Oficina tanto na sua primeira fase áurea, na década de 60, em montagens antológicas como "Os Pequenos Burgueses", quanto na volta do diretor exilado, num Oficina destroçado, em "As Boas", de Jean Genet.

Também atuou mais de uma vez sob direção de Antunes Filho, em peças como "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf", interpretação que lhe valeu os prêmios Molière, Mambembe, APCA e Apetesp e "Vereda da Salvação". Com muitos prêmios no currículo, depois de ter imprimido seu nome definitivamente na história do teatro brasileiro, decidiu fazer o ‘seu’ Rei Lear, ambição comum à carreira dos grandes atores.

Em teatro, dizia gostar dos personagens loucos e lúcidos que fez como Joaquim de "Vereda da Salvação", sob direção de Antunes Filho. Fez também um travesti na comédia "Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá".

Cortez foi um dos fundadores da Apetesp, em 1974, e também seu presidente, durante muitos anos. Em 1979, quando estreou em "Rasga Coração", de Vianinha, tinha 48 anos e uma carreira repleta de prêmios teatrais. Havia levado ao palco personagens de Edward Albee, Molière, Lorca, Jean Genet, Gorki, Nélson Rodrigues, Jorge Andrade e muitos outros. Também já havia atuado em novelas na TV Bandeirantes e na TV Tupi.

Mas foi no início da década de 80, com "Rasga Coração" ainda em cartaz, que sua popularidade na telinha explodiu por conta de sua atuação na novela "Água Viva", sua primeira na TV Globo. Começa então uma série de sucessos, como o volúvel Herbert de "Brega &, Chique", o Pedro Bergman de "Mandala" e o Virgílio de "Mulheres de Areia". Um deles porém, o Geremias Berdinazzi de "O Rei do Gado", chegaria a roubar o lugar do protagonista no gosto do público.

Muito depois de "Água Viva", em 1986, novamente sob direção de Antunes faria no teatro "A Hora de a Vez de Augusto Matraga", inspirado em Guimarães Rosa.

Ele seria ainda o Paulo Prado de "O Lobo de Ray Ban", peça de Renato Borghi; Salieri, o antagonista na peça "Amadeus"; a madame da peça "As Boas" de Jean Genet; "Ah! América", uma colagem de poesias e músicas por ele escolhidas; "Rei Lear", na montagem para a qual ele convidou para dirigir Ronaldo Daniel, que hoje vive em Londres, com que havia atuado no Oficina no início da carreira e ainda se arriscaria em "À Meia-noite um Solo de Sax na Minha Cabeça" e "Fica Frio", duas peças de Bortolotto.

Morreu em função de complicações relacionadas a um câncer na região abdominal.

Foi casado com a atriz Célia Helena, falecida em 1997, com quem teve a filha Lígia Cortez, também atriz. Seu segundo casamento foi com a promoter Tânia Caldas, com quem teve a filha Maria.



Fontes: Site Estadão, Site Raul Cortez, Site Teledramaturgia, Uol.

5 comentários:

  1. Morreu pouco antes de Gianfrancesco Guarnieri, no mesmo hospital, o Sírio-Libanês. Os dois chegaram a estar internados simultaneamente no hospital.

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  2. A primeira vez, que prestei atenção neste ator, foi na novela água viva onde ele era o pai da Gloria Pires..

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  3. Um monstro da dramaturgia ! Adjetivar como brilhante e espetacular seria muito pouco , sem mais palavras

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  4. Com certeza esta trabalhando lá em cima,com seu humor e sua arte,que ele esteja bem !!

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  5. Raul foi um gênio. Sua naturalidade dava um ar realista para qualquer papel que interpretava. Fui e sou fã de Raul Cortez. Simplesmente uma perda que lamento demais. Vem de uma safra rara, da qual a nova geração nem se aproxima.

    Ismael Faria

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