sexta-feira, 28 de setembro de 2012

John Doo




(Chung King, China, 1942 - São Paulo, SP, 02/02/2012)

Chien Lien Tu, mais conhecido como John Doo, nasceu em Chung King, China, em 1942, foi cineasta, roteirista, ator e produtor de cinema sino-brasileiro.

Doo veio para o Brasil ainda criança, acompanhando os pais fugitivos da China comunista. Aventureiro e cheio de segredos, chegou ao cinema paulista depois de trabalhar como motorista de limusine, tintureiro e desenhista.

Seu primeiro filme, "Ninfas Diabólicas" (1977), foi um grande sucesso de bilheteria, surpreendendo pela qualidade da direção e ousadia no tratamento de um tema fantástico e violento.

"Ninfas Diabólicas", foi co-escrito por Ody Fraga e fotografado por Ozualdo Candeias. Nele, Sérgio Hingst interpretava o executivo Rodrigo que dá carona a duas jovens estudantes, Úrsula e Circe (interpretadas pelas estreantes Aldine Müller e Patrícia Scalvi) e acaba se envolvendo com elas, não conseguindo impedir que Circe mate Úrsula por ciúmes. Ele foge de carro com Circe, mas a assassina começa a dizer coisas sem sentido, seguidas da aparição repentina da morta no banco de trás. Rodrigo se assusta, e seu o automóvel cai numa ribanceira, matando-o. Então, as duas moças saem do carro, recompostas, como duas jovens estudantes, para pedir mais uma carona a algum homem solitário na estrada.

O filme é um dos mais lembrados da Boca do Lixo, embora não tenha sido comercializado posteriormente em VHS, e nem sequer exibido na televisão. O próprio cineasta, ao ser entrevistado, afirma não saber onde se podem encontrar os negativos do filme.

Em 1979, ao realizar um de seus filmes mais ambiciosos, "Uma Estranha História de Amor", Doo fez um filme carregado de ideias sobre paranormalidade e reencarnação, aproximando-se da obra de Garret.

Além de "Ninfas Diabólicas", fez outros filmes incensados à aura cult, como "O Gafanhoto", episódio de "Pornô!", e, principalmente, "O Pasteleiro", episódio de "Aqui, Tarados!".

No ano de 1981, o jovem publicitário paulista Jair Correia, diretor recém chegado à Boca do Lixo, estreou no cinema de longa metragem com "Duas Estranhas Mulheres", filme escrito por ele e por Leila Maria Bueno, que misturava erotismo com histórias de duplos assustadores e premonições malignas. Dividido em dois episódios, "Duas Estranhas Mulheres" começava com o média-metragem "Diana", estrelado por Hélio Portho e Patrícia Scalvi. Já o segundo episódio do filme, "Eva", estrelado por John Doo e Zélia Diniz, tratava do tema das premonições malignas e das trocas de personalidade ao contar a história de “China” (Doo), um homem que um dia acorda com a feição de outro, que fora vítima de um acidente de carro.

Sua melhor personificação como ator é como "O Pasteleiro", de David Cardoso. Nele, faz o serial killer de maneira bem perturbadora, justamente por unir o psicótico e zombador.

O que seria um filme comum de exploração ganha outros contornos quando os talentos do roteirista Ody Fraga, do diretor David Cardoso, da dupla de atores Doo/Taddei e do técnico em efeitos especiais Darcy Silva entram em cena para representar um conto de fadas macabro que se revela um estudo sobre o assassinato em série e as perversões sexuais. O filme possuía uma estrutura narrativa e uma coleção de imagens chocantes que denotavam uma impressionante compreensão do gênero e, ao mesmo tempo, objetividade e concisão narrativa.

O mais curioso sobre "O Pasteleiro", no entanto, é que, em sua época, o filme passou despercebido pela crítica, e apenas nos anos 2000, quando foi redescoberto, passou a ser tratado como a exceção que é em comparação com todos os outros filmes de horror realizados por diretores da Boca do Lixo.

Era um diretor que não tinha medo de arriscar dentro de um mercado um tanto fechado a ousadias, como o da Boca do Lixo: filmes enigmáticos, macabros e extremamente inventivos. Isso tudo, claro, dentro do esquema requisitado, com nudez e insinuação sexual, sempre usado a seu favor, fosse para galhofa, ou para dar um maior tom de aflição nos espectadores.

Foi também ativo ator na Boca, trabalhando com emblemáticos diretores, como José Miziara, Antonio Meliande, Ody Fraga (habitual roteirista de Doo), Jean Garret, Carlão Reichenbach e Guilherme de Almeida Prado. Com esse último, fez "A Dama do Cine Shanghai", no papel do dono do Chuang Tzu, restaurante que serve de ponto de encontro para os protagonistas, e como fotógrafo do casamento. É um filme-síntese da forma de Doo se expressar: dosa sua atuação entre o irreverente e o sinistro/macabro, assim como fazia em seus filmes enquanto diretor.

Em 1982, Doo ainda participou da produção independente "Delírios Eróticos"– em parceria com Waldir Kopesky e com o desconhecido Peter Ivan Joséf Racz – filme que, curiosamente, continha três curtas-metragens diferentes abordando o tema das mulheres monstruosas ou vingadoras. O segmento de Kopesky chamava-se "Sussurros e Gemidos" e foi estrelado por Fabio Vialonga e Rosângela Gomes, com roteiro de Doo. O episódio de Doo, mais distante do horror, estrelado por Lia Furlin e Arlindo Barreto, chamava-se "Amor por Telepatia".

"O Gafanhoto" é hoje, talvez, um dos filmes mais cults da Boca, por aproximar o universo fantástico e macabro para a produção erótica, somado ao bizarrismo da já famosa cena de sexo entre um gafanhoto e uma mulher.

Pouco se noticiou a respeito da morte de John, acontecida em fevereiro de 2012. Doo, afastado do cinema desde o final dos anos 1980, estava em coma desde 2009, por conta de um acidente vascular.

Fontes> Sites abraccine.wordpress; Banco de Conteúdos Culturais, IMDB.

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